Helena Singer - 08/10/12
As crianças e os jovens encontram nas novas tecnologias os
recursos necessários para o processo de aprendizagem.
Desde que o computador se tornou pessoal e a rede mundial, muito se fala
sobre uma revolução iminente na educação – educação entendida como sistema
escolar. O fato é que já estamos há duas décadas neste processo e o sistema de
ensino pouco se afetou. Mas este baixo impacto da revolução tecnológica no
ensino escolar não passou incólume – a cada dia, mais e mais se fala do
fracasso do sistema, do descrédito da profissão de ensinar, da indisciplina dos
estudantes. Os dois fenômenos – a revolução tecnológica e o fracasso do sistema
escolar – estão ligados: a nova geração tem uma forma de pensar, agir, se
comunicar e relacionar que não encontra ressonância no modelo escolar.
As crianças e os jovens encontram nas novas tecnologias os recursos
necessários para o processo de aprendizagem. Não se trata de conteúdos, mas sim
de estímulo à curiosidade, de diversão, de oportunidades para que se percebam
autores, de diálogos múltiplos, de desafios constantes, de aventura. É assim
que saem da passividade da sala de aula para o engajamento nas redes sociais.
O potencial das tecnologias para a inovação na educação está no
reconhecimento desta inversão radical no papel do estudante, de objeto para
sujeito da aprendizagem. Quando a tecnologia entra no sistema de ensino
sem isso, torna-se panaceia, remédio para a cura de todos os males, uma forma
de dourar a pílula amarga da escola: o ambiente onde predomina a hostilidade
entre estudantes e professores, os conteúdos descontextualizados, o ensino
burocratizado, o desânimo generalizado.
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de apostar na revolução
empreendida pela hipermídia, com sua estrutura reticular, transversal, que
favorece a exploração e a curiosidade, reproduz no mundo digital a forma
enciclopédica, com sua coletânea de verbetes e fascículos que se empilham e
acumulam mantendo a estrutura linear das notas, séries, disciplinas e aulas.
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de promover a autoria
do estudante no processo de aprendizagem, reproduz na forma digital a estrutura
das aulas centradas no saber dos professores. Ver uma aula filmada pode ajudar
o aluno a reter conteúdos, superando a relação hostil que marca a sala de aula
real e dando-lhe a oportunidade de pausar e voltar, mas está longe de promover
efetivo aprendizado.
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de envolver os jovens
em desafios reais como a colaboração coletiva em larga escala para uma nova
descoberta ou para a disseminação de uma nova atitude, reproduz a
artificialidade da sala de aula em games onde os riscos e as decisões a serem
tomadas são todos controlados e limitados.
A tecnologia é inovadora na educação quando potencializa o autoaprendizado e
as formas colaborativas de produção de conhecimento. A tecnologia é pílula
dourada quando usada como ferramenta para reter conteúdos definidos
externamente, ou para reproduzir no ambiente virtual um simulacro do real,
assim como se faz em sala de aula. Nesta medida, quando reduzida a vídeos de
aulas ou games de determinados conteúdos, a tecnologia aplica-se perfeitamente
adoçar os amargos exames baseados em testes de múltipla escolha, por exemplo,
tornando menos desagradável a tarefa de estudar conteúdos que não interessam às
crianças e aos jovens. Mas, a tecnologia será inovadora quando for usada para
avaliação da aprendizagem significativa em outras bases, que favoreçam a
criatividade, o pensamento e a atitude críticos.
Em resumo, a tecnologia é inovadora na educação quando promove a
transformação nas dimensões de tempo, espaço e relacionamento humano no
ambiente educativo. Se as tecnologias da informação são usadas dentro das
quatro paredes da sala de aula, nos horários fracionados das aulas, na
abordagem especializada das disciplinas, sob autoridade do professor e voltadas
para avaliações lineares e episódicas, então elas não aportam inovação e sim,
reforço da mesma estrutura desgastada e distante das novas gerações.
O potencial revolucionário da tecnologia está dado. Hoje são milhões de
pessoas conectadas no mundo todo, inclusive no Brasil, e novos aplicativos
estão possibilitando cada vez mais o desenvolvimento da criação colaborativa,
sob demanda, online, digital, móvel e inteligente.
As decisões a serem tomadas na educação devem considerar este fato e suas
decorrências: as desigualdades em termos de autoria e difusão de ideias entre
os que programam e os que não programam; a questão da validação dos conteúdos –
se é um corpo editorial ou a comunidade de usuários, o que implica a
necessidade de criação de uma massa crítica para fontes difusas; o uso da
tecnologia para a promoção em escala da educação de qualidade. Estas são as
questões decorrentes dos aspectos realmente inovadores das tecnologias na
educação.
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